O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima da estratégia de "violência injusta, injustificável, arbitrária e ilegal", montada pela Polícia Federal, conforme afirmou em nota o Instituto Lula? Ou serviu de pretexto para uma pirotecnia que se tornou um show midiático, conforme se queixou o próprio Lula?
Se eles tiverem razão, a condução coercitiva do antecessor da atual presidente Dilma Rousseff acabará por se transformar em capital político, que ele poderá usar até 2018 para se apresentar a um inédito terceiro mandato por eleição direta.
De fato, do ponto de vista estritamente técnico, o que a Polícia Federal realizou hoje foi excessivo. Os críticos da iniciativa alegaram que Lula sempre compareceu quando convidado a prestar esclarecimentos ou mesmo depor. Ele tem endereço fixo e, além de tudo, foi presidente do Brasil por oito anos, até 2010.
A condução por força policial, ademais, não foi precedida de qualquer intimação. Só em caso de recusa, o recurso mais drástico seria necessário. Mesmo tendo recorrido para não depor, ele teria direito a uma segunda chamada voluntária.
A 24ª etapa da Operação Lava-Jato discrepou das anteriores no sentido de que teve a deliberada intenção de testar o ambiente e fazer uma primeira abordagem mais agressiva a Lula. Mas foi exagerado o argumento de que a condução forçada teria sido decidida pelo receio de provocar uma comoção social. Os tumultos foram belicosos por causa da radicalização dos contendores, a favor e contra o ex-presidente, não pela sua dimensão – ao menos até agora.
Ao contrário do que disseram os lulistas, mesmo que tenha pecado pelo exagero e até pelo excesso de rigor, a condução do ex-presidente não foi arbitrária nem ilegal. Ela teve origem em mandados expedidos pelo juiz Sergio Moro, que preside processos nos quais Lula é referido, apontado, acusado e objeto de indícios de crimes.
Desta vez Moro teria se deixado levar por impulsos subjetivos de uma prevenção contra Lula ou de seu partidarismo tucano? É difícil acreditar que ele tenha cometido esse erro depois de dois anos de uma condução sem igual de uma ação no judiciário brasileiro, com o suporte de assessores, procuradores da república e policiais federais.
Talvez o que ele tenha feito realmente foi um teste sobre o passo seguinte: a prisão do ex-presidente Lula. Se for coerente com sua trajetória até aqui, ele só dará esse passo dramático se estiver seguro de que não se sujeita a um corretivo e mesmo uma reprimenda na instância superior.
Quanto à comoção social, não parece estar no seu visor imediato. Ele estaria com a sua convicção intacta. Foi com ela que conseguiu o referendo da instância superior para 90% das suas ações, contestadas por recurso dos réus.
É claro, porém, que a derradeira tábua de salvação de Lula, Dilma e do PT está na interpretação política do episódio. Os petistas e seus aliados trabalharão a partir de agora para projetar a imagem de Lula como o "injustiçado" e o "perseguido pelas elites e pela mídia golpista". Mas ela só colará no público se as suspeitas que levaram o juiz Moro a mandar conduzir um ex-presidente da república forem infundadas, frágeis, sem provas ou evidências legítimas.
Se o material já existente e o que hoje está sendo levado para Curitiba forem robustos, esse papel de vítima política não prevalecerá. Pelo contrário, o político que deixou a presidência com 80% de aprovação e foi celebrado como estadista, “o cara”, será despejado para o lixo da história.
Um preço como jamais se imaginou que dele seria cobrado, mas com um agravante: também a sociedade partilhará a quitação dessa dívida – ninguém sabe por qual valor, por quanto tempo ainda e em troca do quê.
O Brasil vive um momento raro da sua história. Ainda não sabe como defini-lo.
Fonte: https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2016/03/04/para-onde-lula-vai/
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