quinta-feira, 18 de julho de 2013

Prisioneiro 46664

Prisioneiro 46664

Pedro Simon*

Jornal do Brasil
18/07/2013


“Ele era um só com o seu povo, a quem dedicara a vida.” Ao escrever essa frase simples e definitiva em seu livro biográfico, “Parte de minha alma”, Winnie Mandela, segunda esposa de Nelson Mandela, primeira assistente social negra da África do Sul, indica o quanto um dos líderes mais proeminentes do século viveu imerso na luta por liberdade e igualdade em seu país, sob um anacrônico e discriminatório regime racista.

‘Madiba’, como era chamado carinhosamente, foi mantido preso por um longo período, 27 anos e seis meses. Durante 12 anos não lhe permitiram sequer abraçar suas filhas e sua mulher, mesmo nas raras visitas autorizadas. Passou por muitas prisões, em celas solitárias ou convivendo de forma restrita com seus companheiros de resistência e de confinamento.

Apesar das adversidades e das circunstâncias duríssimas que afligiam tão profundamente seu corpo e espírito, o prisioneiro 46664 demonstrou uma fortaleza moral infinitamente mais poderosa do que a segregação do apartheid e as pedras e as grades de ferro que o mantinham encarcerado. Continuou ativo politicamente, orientando e estimulando a todos permanentemente. “Quando Madiba lhe pedia para fazer uma coisa, você simplesmente a fazia”, dizia-se, numa clara alusão ao grau de influência e autoridade que dele emanavam com naturalidade.

Aos 95 anos, idade que completa hoje, é admirado no mundo inteiro. A ONU decretou a data do seu aniversário, 18 de julho, o Dia Internacional Nelson Mandela, que foi distinguido ainda com o Prêmio Nobel da Paz, em 1993. Presidiu a África do Sul entre 1994 e 1999, e para tornar realidade o sonho de uma nação unificada, com uma democracia plurirracial, como sempre defendeu, evitou e combateu o revanchismo. Com sabedoria e tolerância, pavimentou um novo caminho para seu país e possibilitou uma nova história para o seu povo.

O exemplo de vida de Nelson Mandela, uma existência inteira dedicada à causa dos direitos humanos e da libertação de um povo oprimido, constitui, em toda a sua plenitude, uma demonstração de tudo o que os homens podem ser em termos de dignidade, honradez e solidariedade - mas, raramente, o são. Ele tinha uma forte motivação: “Acalentei o ideal de uma sociedade livre e democrática na qual as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. Cumpri meu dever com o povo e com a África do Sul.”

*Pedro Simon é senador pelo PMDB-RS

Um comentário:

  1. Bela história de vida e inspiradora. uma pena que a luta pelos bens de mandela e suas instituições de caridade travada por esposas, filhos e parentes numa tentativa irracional de macular seu legado.

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