domingo, 17 de abril de 2011

Hélio Gueiros por Hélio Gueiros

Extraído do Blog "A Perereca da Vizinha", da jornalista Ana Célia Pinheiro.



Hélio Gueiros por Hélio Gueiros, em uma de suas últimas entrevistas


O "Papudinho", no traço de J. Bosco

....volto ao batente neste final de semana e, pra já, deixo um ping-pong que fiz, em setembro de 2009, para o blog do Vic, com o ex-governador e ex-prefeito de Belém Hélio Gueiros, que faleceu na tarde de hoje, aos 85 anos, de insuficiência renal.
Não sei se Gueiros concedeu outra entrevista depois dessa – daí a decisão de postá-la na Perereca.
Até porque, quer se gostasse ou não dele, o fato é que Hélio Gueiros foi partícipe de alguns dos principais acontecimentos da política paraense.
Na entrevista abaixo, ele recorda algumas dessas passagens.
Fala de Almir Gabriel, Jader Barbalho, Simão Jatene, Ana Júlia Carepa, Edmilson Rodrigues, Lula, Magalhães Barata e por aí vai.
Este foi a terceiro e último “entrevistão” que fiz com ele – os dois outros foram publicados, na década de 90, no jornal A Província do Pará, que também já não existe.
Com vocês... Hélio Gueiros por Hélio Gueiros! 
  
Jader Não Ganha, Mas Decide a Eleição
“Só acredite em pesquisa na véspera da eleição. O Ibope
 só faz a pesquisa fiel na véspera. Antes, ele faz negócio.”

O deputado federal Jader Barbalho não deve ser arriscar nem ao Governo do Estado, nem ao Senado, nas eleições do ano que vem: mais certo é que dispute a reeleição à Câmara dos Deputados.
No entanto, deverá exigir a vice-governadoria para o PMDB, em troca do apoio que dará ou a Ana Júlia, ou a Simão Jatene ou a Mário Couto. Um apoio que será decisivo para a conquista o Palácio dos Despachos.
Quem faz tais previsões, tem autoridade de sobra para fazê-las: Hélio da Mota Gueiros, ex-deputado, ex-senador, ex-prefeito de Belém, ex-governador do Pará.
Aos 83 anos, o “Papudinho”, como é carinhosamente chamado pelo eleitorado, participou de alguns dos mais importantes lances do xadrez político paraense, nas últimas cinco décadas.
E, por incrível que pareça, nunca quis ser político ou jornalista – a outra carreira em que também reluz, devido à qualidade de seus textos.
Queria era ser advogado, que nem o primo Nehemias Gueiros, na época, “o maior advogado do Brasil.”
Numa saborosa entrevista ao blog do Vic, o “Papudinho” abriu o coração: falou sobre a desocupação da ponte sobre o rio Itacaiúnas, em seu governo, que um correspondente do Jornal do Brasil disse ter deixado as águas “coalhadas de cadáveres”.
Lembrou o magnetismo de Magalhães Barata, os erros de Jango Goulart, as perseguições da ditadura militar, a “esperteza” do presidente Lula, as “birras” do ex-governador Almir Gabriel – que, aliás, só não teria desistido de uma eleição que acabou vencendo graças aos conselhos de Jader, que, depois, se tornaria seu arquiinimigo.
Hélio se insurgiu contra as idéias separatistas, que pretendem a criação, especialmente, do Estado de Carajás.
Criticou a imprensa, defendeu os políticos e salientou: o ser humano não muda. Hoje, assim como ontem, é capaz de grandes heroísmos, mas, também, de grandes baixezas.
Acompanhe os principais trechos da entrevista:

Doutor Hélio, em política boi “avoa”?
Hélio Gueiros: O Gerson Peres diz que só falta ver boi voar, né? Mas acho que o boi já está dando uns trinados aí, já está voando aí... Muita coisa maluca tem acontecido no nosso Brasil, inclusive o Lula eleito e reeleito. O povo passando fome e ele disparado na popularidade dele.

Como é que se explica isso? O senhor já tinha visto um fenômeno desses?
Hélio Gueiros: É porque o Lula, embora não tenha nem o curso primário, foi sábio em perceber que a grande maioria do povo brasileiro passa fome. Então, ele inventou esse tal de bolsa disso, bolsa daquilo, de modo que, pelo menos, dá uma coisinha. É pouquinho, mas, para quem não tem nada, é muita coisa. Então, o povo pobre adora o Lula. E ele pertence ao PT, que também tem fama de cuidar só dos pobres. Quer dizer: caiu a sopa no mel.

O senhor alguma vez imaginou ver o PT no Governo do Estado e na Presidência da República?
Hélio Gueiros: Não, nunca pensei. Porque, se a gente tirasse pelo PT daqui do Pará, não conseguiria nunca. Eles são muito caturras aqui – eram; não sei se ainda são, né? Eram muito caturras, muito obstinados, não queriam conversa com ninguém. Eles eram os únicos puros e santos na política paraense: o resto tudo não prestava. Agora, quem vestisse a camisa do PT virava santo. Então, eu acho que isso aí é meio... hipócrita! Esse lado do PT eu nunca topei: ele é único, exclusivo. Agora, está se vendo que não é, né? É a mesma coisa, igual aos outros. Porque eu sou religioso, então o Homem pra mim é igual. Pode ser rico, pobre... – é igual!... Eventualmente, um tem sucesso no dinheiro, outro na poesia, mas é o mesmo, com as mesmas falhas e as mesmas virtudes. Agora, achar que só porque está carimbado com o PT é o sério no Brasil? De jeito nenhum!

O que foi que mudou na política paraense nos 50 anos dessa sua vivência?
Hélio Gueiros: A política do Pará é uma coisa até a morte do Magalhães Barata. Até a vigência do baratismo, o paraense tinha opção: ou Barata, ou antibaratista. Depois dele, quem paga um bolozinho muita gente vai atrás. E no tempo do Barata, não: o cara podia botar o dinheiro que botasse na bolsa do sujeito, que o baratista não se vendia; o antibaratista também não. Hoje você não sabe quem é quem.

Mas o Jader, de certa forma, não ocupa esse vácuo deixado pelo Barata?
Hélio Gueiros: Aí é que está. O Jader é filho de um baratista: Laércio Barbalho, que teve intimidade com o Barata, sabia bem quem era o Barata e aprendeu muita coisa com ele – e deve ter transmitido isso ao Jader. Então, o Jader tem o seu carisma pessoal, mas também herdou a sabedoria, o jeito do Barata, através do depoimento do pai dele. Então, o Jader se aproxima muito dessa circunstância. Com um detalhe: se ele se candidatar a governador, não é fácil se eleger; ele, pessoalmente, não ganharia a eleição. Mas, só vence no Pará quem o Jader apoiar. Ele é a margem, a diferença entre os dois lados. Ele, com o PMDB dele, decidiu pra esse ou aquele lado - qualquer lado! - ele vai decidir a eleição. Tome nota: vai ganhar a eleição quem o Jader apoiar.

Por que ele não ganha?
Hélio Gueiros: Porque todo mundo que é muito querido é, também, muito marcado. Há muita resistência à liderança absoluta de uma pessoa. Então, o Jader estará sempre, digamos, com um terço da votação do Pará: é dele; ele pode ir pra onde quiser, que levará esse um terço. Agora, a metade mais um não é muito fácil...  

Tem gente no PMDB que acha que o eleitor médio não se deixa influenciar pelas histórias do Jader a ponto de não votar nele. O senhor concorda com isso?
Hélio Gueiros: Concordo plenamente. Essa coisa, digamos assim, espontânea, natural, contra o Jader não existe: isso é conversa pra boi dormir!  

É coisa da imprensa?
Hélio Gueiros: É coisa da imprensa, dos interessados em abalá-lo. Especialmente da imprensa - e eu incluo aí rádio, jornal e televisão. Ela empurra alguém pra frente ou pra trás. Então, o Jader é um fenômeno por quê? Tirando aí as empresas dele, ele não tem outro apoio. Mas ganha. Por quê? Porque quem é peemedebista é jaderista, assim como quem era PSD era baratista. O Jader vai pelo mesmo caminho.

Então, ele pode ganhar a eleição ao Governo do Estado...
Hélio Gueiros: Não pode porque não chega à metade mais um. No tempo do Barata, existia quem era Barata e quem não era Barata. Agora, não: tem 50 partidos!... É muito dividido...

Houve uma época em que vocês brigaram, não é?
Hélio Gueiros: Pessoalmente, eu e o Jader nunca brigamos. Agora, ele fez umas declarações, num comício em Castanhal, e eu dei uma cutucada nele também.

Por que vocês se desentenderam?
Hélio Gueiros: Eu mesmo não sei... Acontece que eu era muito jaderista - mas eu sou Hélio Gueiros... Nem sempre eu afinava, pensava a mesma coisa que o Jader. E o Jader aceitava e coisa e tal. Um dia, ele se aborreceu, lá num comício em Castanhal, e rompeu comigo. Levou até um irmão meu, para participar do comício.   

Ele queria mandar mais no governo do que o senhor?
Hélio Gueiros: Sei lá!... O Jader talvez tenha se sentido ameaçado, pensando que eu estava querendo substituí-lo em alguma liderança. Isso nunca passou pela minha cabeça. Nunca quis substituir ninguém, nunca pensei em ser governador do Pará. Depois que fui cassado, não queria voltar à política.

E por que o senhor voltou?
Hélio Gueiros: Porque a gente, como político, pede o apoio de muita gente. E essa muita gente que me apoiou para eu subir, veio me pedir apoio com a redemocratização. E aí, não tive jeito... Mas, me escondi!... Me escondi do pessoal do PMDB, que queria que eu voltasse à política. Porque, sem brincadeira, eu entrei na política e é claro que tive meu lado positivo. Mas, fui preso, fui cassado, fui... proibido de escrever em jornal!... Pro-i-bi-do de exercer o jornalismo!... Tem cabimento isso? O pessoal não sabe o que foi essa Revolução de 64. Só vê o lado positivo, porque ela acabou com certas coisas do meu amigo Jango Goulart, que extrapolou.   

Como é que é essa história de o Jango ter “extrapolado”?
Hélio Gueiros: O Brasil estava chegando a um ponto insustentável com o Jango. Insustentável, não adianta!... O Exército custou a aceitar o veto que o povo estava dando ao Jango. Ele fugiu, pegou um avião quase andando, lá em Brasília. E ficou aquele vácuo de umas 48 horas. Quer dizer, as Forças Armadas não se sentiam preparadas para ocupar o governo. Aí, os adversários do Jango aproveitaram o vazio e abocanharam o governo.      

Mas por que é que o Jango estava insustentável?
Hélio Gueiros: Especialmente a inflação estava muito difícil. A cada dia que passava a gente sentia que a moeda brasileira estava se avacalhando, os costumes se avacalhando. O Jango não quis, ou não achava que era certo, frear os pelegos da vida. Aí, começa a surgir muita história, que pode ser metade falsa, mas metade é verdadeira. E o povo foi se enchendo com aquela situação.  

O senhor acredita que o Jango queria transformar o Brasil numa nova Cuba?
Hélio Gueiros: Eu não sei bem a intenção do Jango, mas ele fez de maneira muito errada, radical, acintosa. Ele fazer, permitir uma reunião, no Rio de Janeiro, de sargentos do Exército... Ele lá presidindo e eles avacalhando com o Brasil... O presidente da República assistindo ser esculhambado!...E aceitando e batendo palma. Porque o pessoal se esquece, e vai levando e depois não se lembra mais disso... A memória do povo é curta, não adianta. Mas, na hora, teve uma indignação que foi a família brasileira que foi pra rua. Houve aquela caminhada que derrubou o governo.

Quando o Lula assumiu, o senhor achava que ele seria semelhante ao Jango, ou já dava pra ver que o Lula se aproximava mais de um novo Getúlio?
Hélio Gueiros: Eu acho que o Lula foi muito esperto, e mais sabido do que todo mundo. Tanto que hoje o Lula tem vários milhões de votos – mas o PT não tem nem a metade do que o Lula tem. Então, a habilidade do Lula foi saber contornar as dificuldades e dar a impressão de que está do lado do mais pobre. Mas, o que foi que ele fez quando assumiu? Botou um banqueiro, que trabalhava para o americano, à frente do Banco Central. Isso, naquele tempo, era inadmissível.    

O senhor acha que o Lula não era sincero quando demonstrava preocupação com os pobres?
Hélio Gueiros: Eu não digo sincero. Ele era o que o Maquiavel chama “os fins justificam os meios”. Ele não fica se prendendo à assepsia disso ou daquilo. Se aquele meio serve, ele vai por ele. Se depois der errado, ele retifica. E aproveita pra dizer: “eu não sabia de nada”.

É possível um governante não saber das coisas?
Hélio Gueiros: Pode não ter conhecimento de toda a extensão. Especialmente, porque depois desse negócio de revolução e tudo, o governante ficou muito isolado: fizeram um cerco de ferro em torno dele e ele não tem condição de saber realmente tudo, a não ser que saia no jornal. Por isso é que eles fizeram esse SNI da vida e tudo, para saber o que o povo anda dizendo pelos cantos. Porque os jornais não publicam. E não é que não queiram publicar. Mas, eles sabem que pagarão caro por essa posição. 

Os políticos mudaram ou continuam os mesmos?
Hélio Gueiros: Eu sou religioso: então, o Homem é o mesmo. O político é o mesmo, ontem, hoje e amanhã. Quem quiser que se engane, mas, é o mesmo em toda parte. O Homem continua sendo a mesma coisa: capaz de grandes heroísmos e capaz de grandes baixezas.    

Mas, na média, o político presta ou não presta? É honesto ou é corrupto?
Hélio Gueiros: A religião tem sacerdotes bons, perfeitos – a maioria é quase todinha assim. Mas também tem, no sacerdócio, gente que não presta!... Em qualquer atividade do mundo tem os bons e os ruins. Na política, não poderia ser diferente: tem quem é muito bom e quem é muito ruim. É essa convivência aí que, às vezes, não é fácil. A gente tem a impressão de que o Brasil está se acabando, por causa da imprensa. A imprensa brasileira só destaca o que não presta. A culpa não é do jornal: ele sabe que o povo começa a se interessar pelo noticiário do que não presta. Mas, tem um lado que presta. Só que para esse lado não vem publicidade, porque não vende jornal, rádio, televisão.   

As pessoas é que gostam dessa coisa ruim?
Hélio Gueiros: Uma certa camada gosta; outra, não. Mas, evidente que a classe mais humilde é mais chegada a esses escândalos. Ela gosta de saber pra condenar os políticos!... “Num disse? Tu viste como é que é o negócio? Rará!... É o que eu te digo, rapaz: essa cambada de políticos não vale é nada!...” Aquilo, então, vai se alicerçando... Se só dizem coisas ruins do político, não tem jeito, ele vai pro beleléu!...  

O senhor sentiu isso quando foi governador?
Hélio Gueiros: Eu estava preparado, como sempre fui preparado, para ser aceito e para ser repudiado. Nunca me surpreendi com isso. Se eu achava que estava certo, fazia - podiam reclamar e tudo. Se eu achava que estava errado, não fazia - podia acontecer o que acontecesse que eu não fazia! Então, você tem de saber que tem de fazer a coisa de um jeito, e depois de outro. Umas vezes você aceita a pressão do outro lado; outras, não aceita. Agora, quando eu assumi o governo, de vez em quando havia concentração, lá em frente ao Palácio, pensando que eu não ia entrar. Nunca entrei e nem saí pelos fundos!... Podia estar a multidão em frente ao Palácio, que eu saía do mesmo jeitinho. Porque, se acho que estou certo, não tenho nada com que os outros pensem. Estou em paz comigo mesmo, sei que estou fazendo certo, podem fazer a... Porque, geralmente, as arruaças são comandadas, dirigidas, arquitetadas, preparadas. Então, não se deve dar muito valor a isso – eu não dou!

Qual foi o pior momento da sua trajetória como chefe do Executivo?
Hélio Gueiros:A pior situação que enfrentei foi aquela maluquice, aquela doidice em Marabá, quando a população interditou a ponte sobre o rio Itacaiúnas. Ficaram lá sentados e o tráfego todo, fluvial e rodoviário, ficou parado ali na ponte. Depois de um dia, eu disse: “procurem resolver a situação, sejam sensíveis a uma conciliação, porque, no terceiro dia, essa ponte não amanhecerá interditada”. Quando eu digo uma coisa eu faço; se não disser, não faço. Também custo a dizer que vou fazer ou que não vou fazer. Mas, quando digo, não tem doutor que dê jeito!... No terceiro dia, chamei a Polícia Militar e perguntei: “quantos homens a polícia precisa para fazer essa desocupação?” Aí, disseram: “uns duzentos”. Eu disse: “manda 500”. Eu queria mostrar que não adiantava, que contra a força não há argumento. Quem quisesse investir, é porque era doido, eu não posso...    

Quantas pessoas morreram ali?
Hélio Gueiros: Uma!

Mas dizem que morreu muita gente...
Hélio Gueiros: Mentira! É isso que eu digo... é mentira!...Aí, “os cadáveres estavam no rio”. Procuraram, procuraram, procuraram, passaram a vida toda e encontraram só um. Um eu sei que a polícia reconheceu que morreu. E morreu por uma corda de uma mulher... Eles estavam saindo, pacificamente, quando uma mulher virou bicho: “aaaai!”, gritou, berrou e uns dois ou três a acompanharam e a polícia reagiu – morreu um! O correspondente do Jornal do Brasil, que estava aqui, disse que “o Itacaiúnas ficou coberto de cadáveres”, e muita gente acreditou. Mas é mentira, sem-vergonhice!    

Mas por que o repórter diria isso, se não fosse verdade?
Hélio Gueiros: Porque queria me prejudicar. Queria prejudicar o governo.

Por quê?
Hélio Gueiros: Eu quero te dizer que os esquerdas nem sempre são corretos e honestos, nas suas posições. Jogam pra arquibancada!... Fazem umas coisas forçando a barra!... Aí, o cara disse que as águas estavam “coalhadas de corpos”... Espalharam para todo o Brasil – só o Jornal do Brasil. Mas foi manchete... O que foi que eu fiz? Eles pensavam que eu não voltaria em Marabá. Uma semana depois, marquei qualquer coisa em Marabá – e fui! Os tais revoltosos, tudo em pé de guerra... Passei entre eles – claro que mandei a Polícia Militar... – e andei por toda a Marabá.

O senhor acha que faltou firmeza dos governadores, em relação à garfada na arrecadação do Pará com aquela Lei Kandir?
Hélio Gueiros: Na minha época, não tinha Lei Kandir. Então, eu fiz um acordo com eles (o Governo Federal). “Vocês não pagam tanto, mas pagam 3%”. E eu vinha recebendo os 3%, né? Aí, o Jader me substituiu e deu o seguinte ultimato: “ou paga tudo, ou eu não recebo nada”. E eles resolveram não pagar nada e transformar isso em lei. E o Pará perdeu tudo, até hoje.   

A lei foi uma manobra da Vale, para ter isenção de ICMS?
Hélio Gueiros: Olha, a Vale, naquele tempo, não era particular: era uma estatal, com sede em Minas Gerais.

Então, quem fez essa manobra para essa isenção de ICMS? O Governo mesmo?
Hélio Gueiros: O Governo Federal. Pressão que eles fizeram sobre o governo. Só que a Lei Kandir foi muito depois dos acontecimentos.

Foi inabilidade do Jader?
Hélio Gueiros: Não, não sei o que ele pensou. Mas, ele dizia: “se é para pagar, tem que pagar tudo, e não pela metade”. A não ser que existisse uma lei – não existia uma lei dizendo isso. O que foi que aconteceu depois? Fizeram a lei, isentando de tudo. É um absurdo, minha filha, é um absurdo! Eu disse, naquele tempo, e continuo dizendo: como a nossa exportação é praticamente só de minérios, só vamos ficar com os buracos. Porque eu tinha visto a situação do Amapá, onde eles conseguiram isenção total e, quando saíram de lá, só deixaram o buraco. Com um detalhe: saquearam tanto o Amapá que a empresa saiu de lá até antes de terminar a concessão dela, porque já estava farta.  

Eles carregaram, literalmente, aquela montanha para os Estados Unidos?
Hélio Gueiros: Todinha. Como começaram a fazer aqui no nosso... Quer dizer, Parauapebas, aquela coisa. Só que aqui começou com uma estatal. A Vale, naquele tempo, era Vale do Rio Doce, uma empresa mineira, estatal.  

Como é que o senhor vê o governo do PT no Pará. O Pará melhorou ou não?
Hélio Gueiros: É difícil a gente saber. Primeiro, porque o Governo Federal se mete hoje em tudo dos governos estaduais. Essa história dessa autonomia... Nós não temos autonomia nenhuma; você faz o que eles derem ordem para fazer!... Então, não é o governo de João, de Maria, não adianta!... O Governo Federal trata todo mundo igual – menos São Paulo. São Paulo é que faz o que quer. São Paulo é quem manda no Brasil. Minas tem aquela farolada toda, mas, na verdade, não manda nada! Quem manda é São Paulo!

Mas, e governo da Ana Júlia? Onde foi que ela acertou, onde foi que ela errou?
Hélio Gueiros: A Ana Júlia se vê vítima das isenções absurdas que o Brasil concede, porque não fica nada para o Pará. Tudo que sai daqui é isento, não paga nada. Onde é que já se viu isso? Até para pagar funcionário quase já não está dando, porque eles frearam tudo do Pará. Toda a arrecadação do Pará sofre cortes violentos com a política do Governo.

E não pára de chegar gente com a migração, não é?
Hélio Gueiros: E com um detalhe só, viste? Sem querer ofender quem é de fora - porque eu sou de fora também: sou cearense - mas, hoje em dia, só vem pra cá pobre coitado. Quem vem para Serra Pelada? Os miseráveis passando fome por aí. E só se empurra no Pará o que não presta! Não que eu tenha prevenção com gente de fora, porque aí eu teria de ter prevenção comigo mesmo. Mas que, hoje em dia, para cá só vem o rebotalho, só vem o rebotalho... Além disso, alguns dos que estão chegando aí são tão cínicos, que a primeira intenção deles é dividir o Pará: nós ficamos com o que não presta, e eles, que estão chegando agora, ficam com o filé! Isso é para eles, é para o novo estado! O Pará é Marajó, bicho, gado - e olhe lá! A mina fica com eles... E ainda tem gente que vai atrás dessa corja! Esse negócio de emancipação...

O senhor é contra?
Hélio Gueiros: Eu sou contra!

Mas, doutor Hélio, o Sul e Sudeste do Pará já não são, na prática, outro estado?
Hélio Gueiros: É outro estado porque eles estão na banda rica, minha filha, eles se apossaram da área nobre... Eu me lembro de uma vez que fui com o Jader numa excursão lá pelo Sul do Pará. Aí, o Jader disse assim: “quem for paraense, levante o braço!” - tinha uns três ou quatro... “Quem for maranhense, levante o braço!” - todo mundo levantou. Aí que eu vi que era tudo maranhense.

Mas, no Sul do Pará, há de tudo: mineiro, gaúcho, paranaense. Gente que, na verdade, ocupou aquilo ali, que nem na Transamazônica, onde você tem aqueles pioneiros que ocuparam aquelas terras. Ou o senhor não concorda com isso?
Hélio Gueiros: Eu não me incomodo que eles ocupem - mas sim que eles nos tomem... Quer dizer: o que vem de fora deve respeitar a casa que não é dele. Mas achar que eu vou chegar na tua casa, te botar num pontapé pra fora e ficar com a coisa boa, não!... Eu duvido que eles façam isso na Zona Bragantina, que já está exaurida; duvido alguém querer emancipar aquela região. Vão ficar com o quê? Osso? Não, eles querem o filé!... Querem vir pra cá, dizer que estão nos ajudando, e estão é querendo levar tudo e tirar da gente definitivamente! É uma coisa meio cínica, desavergonhada!... Eu sempre disse uma coisa: vejo com certa simpatia é o desejo do Baixo Amazonas de se emancipar.

Por quê?
Hélio Gueiros: Porque é uma gente que tem sofrido conosco, ao longo de todos esses anos.

Por abandono?
Hélio Gueiros: Não, ela sofre ali, firme... Quer dizer: não quiseram nunca tomar o Baixo Amazonas. Ficaram sempre firmes: Pará! Pará! Pará!...

Mas ali só tem quase paraense...
Hélio Gueiros: Tem mais paraense, mas tem muito japonês... Tem muito nordestino; tem colônias inteiras de nordestinos em Santarém. E Santarém não tem, hoje, as probabilidades que tem o Sul do Pará. Então, eu tolero os movimentos do Baixo-Amazonas, porque é natural, sofreram junto, solidários conosco. É como alguém que é jovem, né? O meu filho faz 21 anos e quer sair de casa? É uma coisa absolutamente normal... Mas quem está com um ano, dois anos aqui e vem logo querendo tomar tudo do Pará – e a parte melhor!...Duvido eles quererem a parte ruim.

O senhor acha que há perigo de acontecer essa emancipação?
Hélio Gueiros: Não, o perigo não existe muito hoje em dia. Antigamente, era um grande negócio criar um novo estado, porque passava cinco ou dez anos sem pagar imposto. Mas acabaram com isso. Agora, o cara pode até se emancipar, mas não fica com isenção de nada. E a burocracia do novo estado vai levar toda a arrecadação dele.   

O senhor ficou conhecido, quando era prefeito, pelas demonstrações de amor por Belém. O que é que o senhor sente vendo Belém do jeito que está?
Hélio Gueiros: Eu continuo amando Belém, para mim é o melhor lugar do mundo. Eu posso sair daqui pra Nova York - e com um detalhe: conheço China, Japão, Rússia - para passar uma semana. Mais de uma semana, de jeito nenhum! Não agüento... Prefiro a minha Belenzinha... Aqui eu me sinto bem, me sinto em casa.

Mas a cidade está muito abandonada, não é?
Hélio Gueiros: A gente gosta de se queixar dos administradores. Os administradores, às vezes, são realmente relapsos. Outras vezes, querem fazer, mas, não podem - porque não têm condições de fazer. Há umas pessoas que prometem mundos e fundos. Aí, o povo elege. Aí, chegam lá em cima e dizem: “ah, mas eu não sabia que a situação estava desse jeito, calamitosa”. Então, para que se candidatou? Quer dizer, então, que ele só iria se candidatar se fosse moleza? E o cara não tem vergonha de dizer isso? A primeira providência é dizer: “pensei que era uma coisa, mas é outra – vou-me embora”. Mas não. Ele chega lá e começa a reclamar que não pode fazer nada, porque o antecessor dele fez uma... Eu fui governador, fui prefeito e nunca critiquei nenhum antecessor. Ninguém está me obrigando a ser prefeito ou a ser governador!

Mas o Duciomar está no time dos que não fazem nada porque não podem, ou por que é relapso?
Hélio Gueiros: Acontece que o Duciomar foi ser político em Belém, quando a maior exigência da população era o estado das ruas e das valas – e mais nada. Educação, Saúde, o povo cobrava do Governo do Estado. Então, era fácil se destacar como prefeito: bastava cuidar da aparência da cidade. Mas, agora, não está mais assim, né? O povo, além da aparência da cidade, exige casa, comida, transporte, saúde e tudo. Aí fica complicado, né?... Então, os recursos são poucos, fica difícil. O Duciomar começou fazendo política lá na areazinha dele, no Guamá. A exigência do povo lá era só o estado das ruas - e ele fazia isso. E ele continua dando ênfase a isso, mas acontece que o povo agora quer mais, além do estado geral das ruas. E hoje em dia, as leis federais, a intromissão no estado, no município, é em tudo. O Governo Federal te dá dinheiro carimbado para uma coisa que ele decide - não és tu.    

O senhor acha que está mais difícil, então, ser prefeito?
Hélio Gueiros: A gente não tem chance, não. Ou se faz... Olha, dê uma olhada aqui, no bairro do Marco. As calçadas estão sendo todinhas arrebentadas. Para colocar sabe o quê? Um caminho para cego andar. E o prefeito usa, porque recebeu o dinheiro carimbado; só pode fazer aquilo, se não, tem de devolver. Aí, ele fez a coisa mais imbecil do mundo - uma coisinha assim para cego andar. Se não usar a verba para isso, ou ela volta, ou você vai pagar no Tribunal de Contas pelo emprego errado. E o Tribunal de Contas, pra começo de conversa, te bota logo na má conduta.

Então, por esse raciocínio, também o Edmilson não foi um mau prefeito?
Hélio Gueiros: Eu acho que não. O Edmilson fez uma boa... A única coisa que eu invejei o Edmilson fazer foi o Ver-o-Peso. Ele mudou a cara do Ver-o-Peso, e isso eu quis fazer. Era o meu sonho, mudar aquela bagunça. Fiz o projeto – e é até engraçado isso... Fiz o projeto e mandei para o Almir. Um ano depois, o Almir me encontrou no Ver-o-Peso e disse: “Precisamos ajeitar isso aqui, Hélio!”. Aí, eu disse: “Almir, lá no teu gabinete tem um expediente meu, com um projetozinho aqui para o Ver-o-Peso, mas até agora não tive resposta”. “Ah, é?, vou olhar”, ele falou. Uma semana depois, ele disse: “Ah, Hélio, não posso!” Passou um ano sem saber que estava lá, né?, no gabinete dele. E ele me chamando a atenção para o problema do Ver-o-Peso...

As suas relações com o PSDB foram muito difíceis?
Hélio Gueiros: É... Por exemplo, eu acho o Jatene muito bom, é um sujeito muito bem intencionado. Já o Almir tem umas birras!... O Jatene seria reeleito tranquilamente!... Mas, se sentiu obrigado a ceder para o Almir, porque o Almir fez questão de ser candidato outra vez. Aí o Jatene abre o espaço para o Almir – e o Almir se candidata. Agora, fica avacalhando o Jatene, dizendo que ele é isso, que é aquilo. O Jatene saiu de campo para ele entrar. E ele entra, sacrificando o amigo, que tinha uma reeleição garantida. Agora, fica responsabilizando o Jatene por tudo. Quer dizer: é um mal agradecido!...

O senhor sofreu com essa birra do doutor Almir?
Hélio Gueiros: Mais ou menos!... Eu tentei várias vezes, por exemplo, que ele aceitasse o Jader, para fazer composição com o Jader, para poder ganhar a eleição. Ele nunca quis.

Por que é que o senhor acha que o doutor Almir tem essa coisa com o Jader, esse ódio?
Hélio Gueiros: Eu quero te dizer... É uma bobagem dele, porque o Almir só foi candidato e ganhou porque foi o candidato do Jader para o Senado. Quem fez o Almir senador foi o Jader... Como ele retribui isso dessa maneira, não sei por que. Eu queria saber. Tentei várias vezes. Ele não dizia de maneira áspera. Mas, não me estimulava. Ele nunca chegou a me dizer o porquê disso. E eu que vi como o Jader insistiu pela candidatura dele... Uma vez, estávamos o Jader, o Almir e eu. Aí, nos sentamos e ele disse pro Jader: “olha, você vai me perdoar, mas eu vou anarquizar não sei com quem” – nem me lembro com quem era. “Eu não quero mais ser governador, não quero mais ser nada”. Aí, o Jader: “Tenha calma, vamos resolver... Não faça nada, deixe que eu resolvo”.  Aí, ele baixou a crista e se elegeu. O Jader teve tolerância, paciência pra agüentar o Almir como candidato. Mas o Almir não retribuiu isso até agora.   

Também teve aquele episódio em que o doutor Almir foi-se embora e disse, se não me engano, que o Jader estava querendo uma fatia grande demais na Prefeitura...
Hélio Gueiros: É conversa!... O Almir tinha essas doidices, viu?... Um belo dia inventou não sei o quê, foi embora, deu uma banana para todo mundo – foi embora sem dizer nada!... Mas, não foi hostilidade de Jader, nem coisa nenhuma. Foi uma doidice do Almir!... O Almir é assim, mas ele é metido a temperamental, a se zangar. Fiz uma campanha com o Almir, né? Aí, um pobre coitado do interior, um chefe político, dizia: “aqui, em praça pública, estou dizendo uma coisa: se vossa excelência não cumprir o prometido, aqui para o povo de tal lugar, nós romperemos com o senhor”. Aí o Almir queria, na mesma hora, dizer que o cara fosse para o inferno, porque ele fazia o que queria e não iria aceitar uma chantagem dessas... Eu disse: “peraí!... peraí!... Acaba com isso!... Deixa o cara fazer a farolada para o eleitorado dele, para o gado dele!... Mas ele não vai fazer nada, não te perturba”. Aí, ele se acalmou. Mas ele queria responder na hora, avacalhando com o chefe político por causa dessa presepada.

O senhor acha que ele era muito autoritário?
Hélio Gueiros: Com certeza. Muito autoritário.

Ficou alguma mágoa, em relação a ele e ao PSDB, devido àquela eleição em que o senhor insistiu em eleger um poste, e que o Ramiro perdeu para o Edmilson?
Hélio Gueiros: (risos) É a tal coisa, né? Para mim, o Ramiro comandaria bem a Prefeitura. Como um bom judeu, ele sabe manejar o dinheiro. E eu achava que ele era uma garantia, no comando da prefeitura. Mas, perdemos a eleição...

Mas ficou alguma mágoa do PSDB e do doutor Almir por causa daquela derrota? O senhor acha que eles poderiam ter se empenhado mais, para fazer do Ramiro prefeito?
Hélio Gueiros: Eu quero te dizer que todo mundo que é derrotado acha que a culpa não é dele – é dos outros. E aí diz: “fulano me abandonou”... Isso é conversa pra boi dormir!...Não teve condições de harmonizar, de coordenar... Não teve, acabou-se!...

Então, a culpa daquela derrota foi sua?
Hélio Gueiros: Em parte... Em parte, porque eu poderia ter escolhido outro candidato. Mas a minha preocupação era colocar à frente da Prefeitura uma pessoa capaz, com qualidade para liderar e administrar e tudo.

O senhor concorda com o discurso tucano de que, com a ascensão do Almir, em 1995, houve uma transformação enorme no Pará...
Hélio Gueiros: Em quê? (risos)

Não houve isso? O senhor acha que o doutor Almir não inaugurou uma Era?
Hélio Gueiros: Se ele inaugurou, deveria ter sido eleito agora – cadê que ele foi? Porque é a mesma coisa, ou seja, fez o mesmo que todos nós.

Mas o senhor não acha que o Pará melhorou nos doze anos de tucanato?
Hélio Gueiros: Minha amiga: o de hoje, naturalmente, é melhor que o de ontem. O de amanhã, vai ser melhor que o de hoje. É ilusão pensar essa história de que marca-passo. Tem um ritmo diferente, mas, progride. Não tem jeito: progride! O progresso independe... O governo faz, às vezes, é atrapalhar – mas não impede o progresso. O povo é quem traz as forças vitais; elas são é do povo. É como crescer: eu era desse tamanho, mas, cresci. Não fiz nada, mas cresci naturalmente, não tem jeito!... É uma coisa absolutamente natural: tem que crescer. A maior bobagem é quem pensa que não.

Como é que o senhor vê as novas lideranças da política paraense? Ou o senhor acha que não há novas lideranças na política do Pará?
Hélio Gueiros: Para mim, não há. As supostas novas lideranças são lideranças minúsculas, muito restritas quase a um bairro ou a uma rua.

O senhor se arrepende de alguma coisa ao longo dessa trajetória política de quase 50 anos?
Hélio Gueiros: Eu não tenho consciência de alguma coisa que eu fiz e que não faria mais. Eu sou tranqüilo quanto a isso. Posso estar errado, mas fiz o que devia fazer. Não tem essa história de “ah, eu não devia ter feito isso”... Isso eu não aceito: você fez porque quis. Então, é muito cômodo dizer isso. Jamais você ouvirá de mim: “eu me arrependo”. Não me arrependo, não. Fiz o que achei que devia fazer.

Mas, se o senhor pudesse voltar no tempo, ainda seria político e jornalista, ou seria alguma outra coisa?
Hélio Gueiros: Só quero te dizer que nunca na minha vida pensei em ser político – nunca!O meu projeto era ser um grande advogado, como um primo meu que era, naquela altura, o maior advogado do Brasil: Nehemias Gueiros. O meu sonho era ser igual a ele.

Como foi essa história do Jornalismo?
Hélio Gueiros: Eu gostava de rabiscar umas besteiras, fazia algumas coisinhas na Igreja Presbiteriana. E eu fiz lá uns jornaizinhos de mimeógrafo, né?, A Juventude. Quando eu vim para cá, fiz um artigo assinado e O Liberal publicou. Fiz o segundo e a mesma coisa. Aí, certo dia o Magalhães Barata me mandou perguntar se eu queria ser promotor em Santarém. Eu fiquei assim: “mas sair daqui pra ir para o interior?”. Aí, meu pai só fez dizer assim: “faz o que tu quiseres, mas, fica sabendo: se tu rejeitares isso, o Barata nunca mais te convidará para coisa alguma!” Passei um ano como promotor de Santarém e voltei para cá. O Barata acabou me botando como redator de O Liberal, mas colocou na gerência um major reformado do Exército. Um homem muito bom, muito direito, mas que, como militar, tinha aquela coisa: até aqui mando eu, até ali manda você. Embaixo ficava a oficina e ele mandava; em cima, onde ficava a redação, era só eu. Aí, quando eu achei que não dava certo, disse para o Barata: “general, se o senhor quiser que eu fique em O Liberal, só ficarei se puder mandar em cima, embaixo, do lado esquerdo, do lado direito... Qualquer lado que for de O Liberal, quem manda sou eu”. O Barata chamou o major e disse: “Tá dispensado. O doutor Hélio é que vai mandar em tudo aí”. E foi assim que eu tomei conta.

E como foi a questão do Romulo; quando foi que o Romulo...
Hélio Gueiros: Aquilo foi uma bobagem! Coisa de maluco, mesmo. Eu acabei um mandato de deputado estadual e não sei por que ia ter uma vaga para senador.

Isso foi na década de 80?
Hélio Gueiros: Eu não sei exatamente quando foi. Aí, o Romulo disse que queria falar comigo e me mandou ir ao Iate Clube no dia seguinte, que era um domingo. Então, ele me disse: “Hélio, te candidata a senador. Vais ganhar disparado”. Eu disse: “Rapaz, tu falando assim? Tu podes te livrar do Jarbas Passarinho?” E ainda disse assim: “Tu tinhas que apoiar o Jarbas Passarinho”. E ele: “Dou meu jeito. Vai ser candidato ao Senado”. Naquele tempo, entravam na chapa um candidato e dois suplentes: éramos eu, o Itair Silva e o João Menezes, todos do MDB. Continuei escrevendo em O Liberal. No meio da campanha, vi que o Romulo cortava notícias, coisa que ele nunca tinha feito comigo. Daí a pouco ele começou a tirar sem me dizer nada... E, uma vez, pegou a minha página, que era inteira, e cortou quase tudo - ficou só um pedacinho, um elogio ao Eládio Malato, que tinha morrido!... Aí, eu disse: “tô fora”. E entendi que ele foi pressionado pelo grupo do Jarbas Passarinho, para me calar no O Liberal. Saí sem dar satisfação ao Romulo. Mas o Romulo começou a tentar se reaproximar de mim. Até que um dia, não sei por que, concordei em falar com ele. Fomos a um restaurante, na Cidade Velha, e ele me disse: “quero te dizer uma coisa: foste a única pessoa no Pará que brigou comigo e não me chamou de contrabandista”. Porque eu tinha feito uma série de artigos, mostrando a minha coisa com ele, só a partir do instante em que me zanguei com ele. Não botei nada do passado, nada!   

O senhor publicou no Diário do Pará?
Hélio Gueiros: É, no Diário.

E o senhor não se arrepende dos termos daqueles artigos, que foram tão pesados?
Hélio Gueiros: Eu não exagerei, não. O que eu disse tudo era verdade. E o Romulo quis fazer as pazes comigo porque eu só contei a verdade: que ele enganava a Déa; ele dizia para a Déa tudo ao contrário do que eu estava dizendo. Ele dizia para a Déa que era mentira, que era invenção minha. A Déa ficou com ódio de mim!...Depois, voltamos às boas, eu e ele, do mesmo jeito como era, sem nenhum ressentimento.

Para quem tende mais o apoio do Jader no ano que vem: Jatene, Ana Júlia ou Mário Couto?
Hélio Gueiros:O Jader pode decidir qual for, quem ele quiser: todo mundo que é do PMDB só votará na pessoa indicada por ele.

Não é mais provável a dobradinha Já/Já - Jader e Jatene – do que o Jader apoiar a Ana Júlia?
Hélio Gueiros: Olha o que eu estou dizendo: o Jader não vai ser candidato, de jeito nenhum, a governador. À eleição majoritária, ainda tem mais. Porque ele sabe que, se for candidato na majoritária, todo mundo vai se juntar contra ele.

Então, ele deve sair a deputado federal?
Hélio Gueiros: Deputado federal é certo, é reeleição tranqüila.

O senhor acha que ele quer o que, então? A vice-governadoria para o PMDB?
Hélio Gueiros: Ah, bom, isso ele vai querer. Ele só pode apoiar se ele der o vice. 

Ele só apóia se der o vice?
Hélio Gueiros: A cabeça ele não dá. Ele não vai pra cabeça. Ele sabe que isso vai juntar a oposição; todo mundo vai se juntar contra ele. Ele tem um grupo ferrenho ao lado dele e tem um grupo ferrenho contra ele.

Mas o senhor não acha que é mais fácil ele apoiar o Jatene do que a Ana Júlia?
Hélio Gueiros: O Jader não tem essa filosofia que tu pensas: o Jader pesa muito e faz a coisa mais razoável. Ele não toma posição, assim, antecipada. Você sabe o que é que ele vai fazer? Você não sabe, ele pode fazer qualquer coisa. Ele não se compromete com nada.

Mas o PMDB reclama muito dessa relação com o Governo do Estado, especialmente, dessa relação com a DS...
Hélio Gueiros: A Ana Júlia só ganhou porque o Jader apoiou, minha filha. E a Ana Júlia não é imbecil. Então, ela fica querendo o apoio do Jader, porque sem isso ela perde a eleição. O Jatene perde a eleição se não tiver o apoio do Jader. Quer dizer: o Jader é quem vai decidir a eleição, tome nota. É essa história de maioria absoluta, né?, não tem jeito. Ele vai ser decisivo. Essa metade mais um só vai ficar para o lado que o Jader cambar.

Ele pode querer o Helder como vice-governador?
Hélio Gueiros: Eu gosto muito do Helder... Não sei... Aqui em Belém, acho que o Helder tem contra ele o sobrenome Barbalho, que é fácil intrigá-lo, porque o Jader não tem maioria em Belém.

Mas ele está bem em Belém, nas pesquisas...
Hélio Gueiros: Isso é conversa pra boi dormir!... Tu acreditas em pesquisa? Só acredite em pesquisa na véspera da eleição – tome nota. O Ibope só faz a pesquisa fiel na véspera. Antes, ele faz negócio. Porque uma parte do eleitorado vota em quem estiver na frente da pesquisa. Então, ele vai fazendo isso e vai ganhando o dinheirinho dele. Mas, quando chegar na véspera, o Ibope vai dar o certo.

Ficou alguma mágoa em relação ao doutor Almir e aos tucanos por causa do seu filho, o Helinho?
Hélio Gueiros: O negócio do Almir é uma coisa engraçada... Eu não quis que o meu filho fosse candidato a vice, de jeito nenhum. Aí, o Almir saiu por aí iniciando a campanha dele e não juntava mais do que dez pessoas. Aí, ele veio comigo e disse: “Hélio, eu queria que o Helinho fosse candidato”. Eu disse: “Não, tu és maluco?” E ele insistiu, insistiu, insistiu. E eu disse assim: “Olha, eu não vou indicá-lo. Mas eu faço uma lista e você escolhe quem você quiser”. Aí fiz uma lista e coloquei: Henry Kayath, não sei se o Ramiro e o Hélio Gueiros Junior. Ele, na mesma hora, escolheu o Hélio Gueiros. Agora, por que depois ele se virou contra o Hélio, eu não sei. Ele que insistiu – fiz tudo para não ser.

O Helinho se queixava de muita humilhação na época em que era vice-governador, não é?
Hélio Gueiros: Esse meu filho é meio genioso também, e dois bicudos não se beijam, não é? O Almir pensava que ele não era assim; pensava que era um bestalhão - e não é!... É chato, o Hélio Junior é enjoado: topa a parada. Quer dizer: tem de levá-lo com muito jeito, porque ele é estourado. E o Almir também é estourado, não é? Não ia dar certo.

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